domingo, 29 de março de 2015

A Maldição da Chorona (La Maldición de la Llorona, México, 1963)


O cinema antigo de horror mexicano tem algumas preciosidades que não podem ficar esquecidas. Essa é uma produção de 1961, porém lançada dois anos depois, com fotografia em preto e branco, dirigida e escrita por Rafael Baledón, a partir de uma história de Fernando Galiana, que por sua vez utilizou elementos de uma lenda popular sobre uma mulher fantasma que chora de forma assustadora.
Na história do filme, a jovem Amelia (a venezuelana Rosita Arenas, de “La Momia Azteca Contra el Robot Humano” / “The Robot vs. The Aztec Mummy”, 1958), recém casada com Jaime (Abel Salazar, de “El Barón del Terror” / “The Brainiac”, 1962), recebe o convite para visitar sua tia Selma (Rita Macedo), que não vê há 15 anos e que mora solitária num casarão afastado no meio de uma floresta. A casa de aspecto sombrio é conhecida na região por ser assombrada e temida pelos moradores das aldeias próximas por causa da ocorrência misteriosa de assassinatos noturnos na estrada em seus arredores, cuja autoria é investigada sem sucesso pelo capitão da polícia local (Mario Sevilla), e onde as vítimas são encontradas sem sangue. Chegando ao destino, o casal é recebido pelo rude serviçal Juan (Carlos López Moctezuma), manco e com o rosto desfigurado. No encontro da jovem Amelia com sua tia Selma, logo é informada a real intenção do convite, com a revelação da existência de uma maldição familiar envolvendo a antiga bruxa maléfica Marina, que renegou todos os seus bens e adquiriu um poder sobrenatural das trevas. Ela foi executada com uma lança no peito, e ficou conhecida como “a mulher chorona”, devido seus gritos aterrorizantes de agonia (daí o título original). Seu cadáver apodrecido está escondido no porão da casa, aguardando apenas a oportunidade de ressurgir entre os vivos. E como elas eram suas únicas descendentes, a ideia seria reviver a feiticeira num ritual de magia negra, no aniversário de 25 anos de Amelia, cujo presente seria o seu sacrifício, dando a vida para trazer a antiga bruxa de volta.
A Maldição da Chorona” é uma pérola do cinema gótico com todas as suas tradicionais características de um horror sutil, mas extremamente eficiente na elaboração de uma atmosfera sombria e sinistra. Temos a carruagem como meio de transporte da época, tornando sempre árdua e demorada a tarefa de se locomover; a floresta com árvores secas e aspecto fantasmagórico envoltas numa tenebrosa névoa espessa; e o casarão frio e deprimente de pedra, repleto de passagens secretas e ambientes tétricos, decorado por teias de aranha, habitado por ratos e morcegos e protegido por imensos cães assassinos, que mais parecem guardiões dos portais do inferno. Estão também presentes aqueles esperados clichês que contribuem de forma decisiva para a construção de um clima mórbido como o serviçal demente com o rosto desfigurado; o porão sinistro que esconde um segredo aterrador; e a música tétrica de um órgão tocando acordes de gelar a espinha. Além de um espelho mágico que reflete a personalidade sombria escondida na jovem Amelia, que é vítima de uma maldição familiar; um alçapão que serve de inesperada armadilha; e os gritos estridentes de uma mulher chorona ecoando pelos corredores do casarão. Sem contar a presença de um homem preso no sótão, deformado pela loucura (no caso, é o marido de Selma, o Dr. Daniel Jaramillo, interpretado por Enrique Lucero, e que perdeu a sanidade nos anos forçados de reclusão, vivendo como um animal). A maquiagem da maléfica Selma, quando transformada em bruxa, com o rosto modificado simulando a região dos olhos como escuras cavidades vazias, é um dos pontos fortes do filme, passando a sensação do Mal absoluto.
Curto, com apenas uma hora e quinze minutos de duração, e com uma constante atmosfera de tensão e horror sugerido, “A Maldição da Chorona” é recomendável para apreciadores do cinema gótico e histórias de bruxas e maldição familiar, e para quem procura por produções antigas (nesse caso, da década de 60 do século passado) fora do tradicional mercado americano ou europeu.     
(Juvenatrix - 29/03/15)




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