terça-feira, 21 de abril de 2015

Espectra: Histórias de fantasmas

Espectra: Histórias de fantasmas, Tomo 1, Georgette Silen, org. 240 páginas, Capa de Dimitri Uziel, prefácio de Simone O. Marques. Editora Literata, Praia Grande, 2011.

Não há dúvida que o gênero preferido dos fãs de ficção fantástica é o horror. Neste momento, há um grande rebuliço com a fantasia por conta dos sucessos internacionais como O senhor do anéis, Harry Potter e A guerra dos tronos, mas o horror sempre esteve na ordem do dia. Mesmo quando a fantasia era interesse apenas de uns poucos nerds jogadores de rpg e a ficção científica dominava o cenário editorial, o horror estava lá, firme e forte, com seus fãs fiéis e ardorosos que sempre responderam bem aos produtos em todas as mídias.
Talvez seja por isso que, apesar de não predominar no formato de romance, as antologias do gênero são tão abundantes e voluptuosas. Em 2010, das 59 antologias inéditas publicadas no ano, 30 eram de horror, conforme dados divulgados no Anuário brasileiro de literatura fantástica 2010, e em 2011 não foi diferente.
Alguns organizadores especializaram-se na montagem de antologias de horror, como Ademir Pascale, M. D. Amado e Georgette Silen. Esta organizou para a editora Literata o volume Espectra: Histórias de fantasmas, que promete ser o primeiro de uma série.
O livro reúne em 240 páginas nada menos que 31 contos de 28 autores, boa parte deles estreantes. Como o título já diz, trata-se de uma antologia temática dedicada às histórias de fantasmas e assombrações. E no livro há um pouco de tudo: demônios, poltergeists, aparições, casarões e, é claro, fantasmas aos montes. É até estranho que com tanto fantasma por aí, eu nunca tenha visto um só sequer.
Seria exaustivo comentar todos os contos, mas vale a pena destacar alguns deles.
“Inferno particular”, de Sheilla Liz Cocconello, uma veterana nas antologias de ficção fantástica, conta o cotidiano de uma jovem suicida que, condenada a uma eternidade infernal, resiste em abandonar o local de sua morte. Mas não importa o quanto protele seu destino, o inferno sempre estará esperando por ela e não está com pressa.
Taiane Gonçaves, que estreou na antologia Tratado secreto de magia (Andross, 2010), participa desta seleta com três textos. O melhor deles é “As treze almas”, sobre um jovem que, ao visitar uma tia no interior, se vê as voltas com o fantasma de um assassino psicopata.
O conhecido autor-fã Adriano Siqueira, autor da coletânea Adorável noite (Estronho, 2011), foi especialmente convidado para o livro e também oferece um texto interessante e divertido. “70 Km por hora” relata, em clima de videogame, uma noite de trabalho de um detetive especializado em casos bizarros. Aqui, o de um automóvel assombrado que coloca toda a cidade em risco.
“Anga”, de Carlos Gaiten, outro autor experiente em antologias, investe numa história de laivos políticos, na qual um vidente recebe de um fantasma a localização de uma vala onde estariam enterradas várias vítimas da ditadura militar.
“A gameleira”, de Carmelo Ribeiro, é o melhor texto da coletânea. Trata-se de um “causo” contado a moda antiga, sobre dois homens valentes que se desafiam mutuamente a enfrentar a maldição de uma velha árvore.
Outro bom texto é “Altar de ossos”, de Marcelo Augusto Claro. Um pai e seu filho, cuja profissão é caçar fantasmas, vão enfrentar um dos piores numa velha casa de fazenda.
Gian Danton, premiado roteirista de quadrinhos e um dos autores mais experientes do grupo, participa com o conto “Lembranças de sangue”, sobre um jovem estudante que se hospeda na casa de uma senhora simpática, mas vai descobrir, da pior forma possível, que o lugar é assombrado por lembranças de sangue e morte.
Além destes, o livro ainda traz textos de Marcelo Augusto Claro, Sória Celestino, Bruno Anselmi Matangrano, Vicente Reckziegel, Eduardo Bonito, Suzy M. Hekamiah, Jéssica Schiavetto Linhares, Michele C. Marchese, Debby Lenon, Marjorie Tolentino, Rosi Caobiano, Cecília Torres Nogueira, Rubens Alves, Sandra Françoso, Débora Jeronymo, Andrea Betoldo, Mariana Albuquerque, MBlannco, Celso Correa de Freitas, da prefaciadora Simone O. Marques e da própria organizadora, Georgette Silen.
Apesar da grande quantidade de autores e ampla variedade de estilos, a antologia é equilibrada e fácil de ler. Não chega a ser assustadora; está mais para divertida, como geralmente são as histórias populares de terror, e representa bem o estado da arte no ambiente dos fãs do gênero.
Na falta dos fanzines, quase todos extintos, as antologias têm cumprido a função de permitir o exercício editorial de novos autores, dessa forma são uma espécie de incubadora de talentos. Esperemos que, futuramente, alguns deles desdobrem suas asas e arrisquem voos solo. Aí sim, ninguém vai segurar essa turma.
— Cesar Silva

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