sábado, 13 de fevereiro de 2016

Todo Mundo Quase Morto (Shaun of the Dead, Inglaterra / França, 2004)


                                   Escrito originalmente em 06/02/2006.

“Remover a cabeça ou destruir o cérebro é a única forma de combatê-los.”
– alerta de um apresentador de noticiário de televisão

Shaun (Simon Pegg) é um homem fracassado que não consegue visitar sua mãe Barbara (Penelope Wilton), tem problemas de relacionamento com seu padrasto Philip (Bill Nighy, o chefe supremo dos vampiros em “Underworld”), mora numa casa dividindo o espaço com os companheiros Ed (Nick Frost), um gorducho inútil e desempregado, e o severo Pete (Peter Serafinowicz), não é respeitado pelos colegas de trabalho numa loja de eletrodomésticos, freqüenta apenas um único bar como diversão, e não consegue também agradar ou surpreender com criatividade a bela namorada Liz (Kate Ashfield), que está cansada da rotina do namoro, dispensando-o e preferindo a companhia de um casal de amigos, David (Dylan Moran) e Dianne (Lucy Davis). Ele chega à conclusão que precisa “dar um jeito na vida”, ter atitudes e sair do marasmo. Ele só não imaginaria que seria obrigado a assumir o papel de herói meio atrapalhado e teria que fazer tudo isso repentinamente, depois que um vírus contamina as pessoas transformando-as em mortos-vivos vagando desorientados pelas ruas de Londres, famintos por carne humana. Shaun acaba assumindo a liderança de um grupo que tenta sobreviver em meio ao caos instaurado pelos zumbis. Eles se refugiam num pub, onde ficam encurralados e são atacados, obrigando Shaun a lutar por sua vida e a dos amigos, além também de tentar recuperar o amor da namorada.     
Depois de assistir o filme inglês “Todo Mundo Quase Morto” (Shaun of the Dead, 2004) fica um sentimento que seus criadores Edgar Wright (também o diretor) e Simon Pegg não se decidiram se fariam um filme de comédia de humor negro sobre o fim do mundo ou um drama sério de horror com cenas fortes de violência e mortes, pois o resultado ficou uma mistura das duas coisas e que para mim não funcionou. Eu particularmente não sou muito fã de comédias ou paródias, sendo que entre as poucas exceções destaco “O Jovem Frankenstein” (1974), de Mel Brooks, e “Malditas Aranhas!” (2001), homenagem e sátira divertida dos nostálgicos filmes dos anos 1950 com aquelas criaturas tornando-se gigantes por causa do contato com produtos químicos que alteraram seu metabolismo. Eu prefiro filmes mais sérios. Ou, caso a ideia seja satirizar algum gênero, que o filme seja reconhecidamente uma comédia de humor negro, e não uma mistura onde temos piadas e situações cômicas perdidas no meio de cenas sangrentas com zumbis putrefatos devoradores de carne humana.
Como filme de humor negro, não achei tão divertido quanto esperava, principalmente depois das expectativas geradas após ler diversos comentários positivos a respeito, vindos de todos os lados (tanto que no site “Internet Movie Database”, a maior fonte de dados de cinema do mundo, a nota média dos leitores ao avaliarem o filme é até bem alta). Utilizei como referência para chegar a essa conclusão o fato que somente consegui rir de alguma coisa ao ver nos materiais extras do DVD algumas cenas cortadas por erros de gravação, principalmente quando o obeso Ed tenta explicar para Shaun as características devassas de uma mulher deprimida de meia idade e ex-atriz pornô que sempre freqüenta solitária o bar “The Winchester”.
Já como filme sério de horror gore, existem algumas boas cenas que merecem destaque como aquela onde uma garota afetada pelo vírus que a tornou uma morta-viva, a caixa de supermercado Mary (Nicola Cunningham), é empalada por um cano grosso de aço, e a seqüência onde um dos personagens é destroçado violentamente com suas entranhas devoradas por uma legião de zumbis, lembrando cena muito similar com um militar arrogante, o Capitão Rhodes, em “O Dia dos Mortos” (1985), de George Romero.
Aliás, vale enaltecer as várias citações e homenagens aos filmes do mestre Romero, “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968), “Despertar dos Mortos” (1978) e o já citado “O Dia dos Mortos”, além de outras personalidades do cinema de horror como os cineastas Lucio Fulci e John Landis, e o cultuado ator Bruce Campbell (isso sem falar no diretor Danny Boyle e no ator Ken Foree, de “Despertar dos Mortos”). E uma cena também em especial, onde Shaun demonstra uma completa alienação, típica do ser humano consumista, numa crítica social interessante quando ele sai de casa para comprar um refrigerante e um sorvete num pequeno mercado e consegue a incrível proeza de não perceber que o bairro está misteriosamente sem movimento e que vários mortos-vivos estão cambaleando pela região, próximos dele.
“Todo Mundo Quase Morto” foi lançado em DVD no Brasil no final de Outubro de 2004 pela “Universal”, trazendo cerca de uma hora de materiais extras, divididos entre os tópicos “Carne Crua”, “Galeria de Zumbis”, “Rastros dos Monstros” e “Partes Cortadas”. No primeiro tópico, temos uma interessante apresentação de Edgar Wright e Simon Pegg sobre o esboço do filme, mostrando a ideia básica do roteiro que imaginaram através de rascunhos escritos num “flip chart”, além de detalhes dos efeitos especiais, testes de maquiagem e um “featurette” promocional com comentários do diretor Edgar Wright e dos atores Simon Pegg, Kate Ashfield, Nick Frost, Lucy Davis, Dylan Moran e Bill Nighy. O segundo tópico apresenta fotos e cartazes do filme. Já em “Rastros dos Monstros”, temos a exibição de “teasers”, “trailers” e comerciais de televisão. Finalizando os extras, o último tópico destaca cenas que foram cortadas da edição final com a opção dos comentários dos roteiristas Edgar Wright e Simon Pegg, além de uma interessante revelação do destino de três cenas que ficaram no ar durante o filme, ou seja, como Shaun conseguiu despistar a legião de zumbis que o perseguiam antes de chegar ao pub “The Winchester”, o que aconteceu com Lucy depois que decidiu enfrentar sozinha os mortos-vivos num acesso de fúria, e uma explicação envolvendo a cena final.
Finalizando, justifico a minha nota como sendo 6 (de total de 10) devido quase que exclusivamente pela quantidade de citações e homenagens inseridas no roteiro do filme, e pelas boas cenas de horror gore, pois sinceramente não consegui entrar no clima do humor negro proposto pela história. Mas, independente de qualquer coisa, como um filme de mortos-vivos, vale uma conferida...

(Juvenatrix - 06/02/2006)

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