segunda-feira, 30 de maio de 2016

Mushishi

Mushishi (Mushishi), Hiroshi Nagahama, Japão 2006. Série com 26 episódios.

Algumas ideias das histórias fantásticas são tão absurdas que é necessário que o autor use técnicas narrativas especiais para manter o interesse do expectador/leitor. Entretanto, algumas poucas encontram uma abordagem tão naturalista e emotiva que nos pegamos desejando que aquilo fosse real.
É o caso de Mushishi, série japonesa em desenho animado exibida no Brasil em 2010 pela extinta tv a cabo Animax, que se destacou na programação por ser uma história singela e não violenta, de estilo adulto e sem aqueles personagens "zoiúdos" que caracterizam os animes.
Trata-se uma fantasia eminentemente pastoral, que conta as histórias de Ginko, uma médico andarilho que ajuda as pessoas do Japão antigo em questões relacionadas a um tipo de ser vivo invisível, nem vegetal nem animal, conhecido como mushi.
Os mushis compartilham o mundo com os homens e animais, mas geralmente não interagem conosco. Ocupam um plano intermediário e mal notam a nossa existência. Não são maus mas, como todos os seres vivos, farão o que for preciso para sobreviver e muitas vezes isso significa interferir na vida dos homens, geralmente de forma imprevisível e essa intervenção pode ser perigosa e até mortal. É justamente nos casos mais graves que Ginko revela sua utilidade.
Desde muito jovem, Ginko demonstrou ter afinidade com os mushis, que pode enxergar facilmente, por isso os conhece muito bem. Não pode ficar muito num mesmo lugar porque alguma coisa nele atrai os mushis. Então, Ginko se tornou um mestre dos mushis peregrino, sempre movendo-se de aldeia em aldeia, ajudando os que têm problemas com os bichinhos.
A história da vida de Ginko também é um mistério revelado aos poucos. Sua aparência anacrônica, com cabelos alvos e olhos muito verdes, contrasta com o tipo físico dos japoneses. Suas roupas algo modernas também parecem deslocadas naquele universo rural.
A violência física, tão comum nos animes, é algo que não tem lugar em Mushishi. Ela eventualmente se apresenta sim, mas de forma velada, em preconceitos, desprezo e autoritarismo; armas, nem mesmo uma espada.
As histórias são calmas e suaves, traduzindo um verdadeiro espírito zen budista. A natureza é parte importante da trama e muitas vezes é a intervenção dos homens nela que causa problemas com os mushis, que dependem muito do equilíbrio ambiental.
A abertura do desenho tem uma poética toda especial, com uma trilha sonora no estilo folk norte americano.
Como a natureza dos mushis está além do espaço e do tempo, a interação dos homens com eles pode criar singularidades estranhas, o que permite histórias de diversos gêneros. Embora seja fundamentalmente um seriado de fantasia, algumas histórias chegam as franjas da ficção científica e do horror.
O seriado é baseado na história em quadrinhos homônima criada por Yuki Urushibara, publicada originalmente entre 1999 e 2008 na revista Afternoon. Tem 26 episódios ao todo e um bem produzido longa metragem em live-action lançado em 2007, dirigido por ninguém menos que Katsuhiro Otomo, mais conhecido entre os brasileiros pela hq Akira. Vale a pena procurar pela série, que tem parte de seus episódios legalmente disponível no saite Crunchyroll, aqui.
Cesar Silva

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